segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Morte anunciada

Existem situações para as quais o curso de Direito não prepara você.

O Defensor Público, pelo contato direto que tem com as famílias e assistidos, acaba indo bem além das funções constitucionalmente previstas.

No último dia 27 de janeiro, assisti dois acusados em um processo por tráfico de drogas. Depois de realizada a instrução, salvo engano, o Ministério Público pediu para realizar suas alegações finais em memoriais devido ao avançado da hora.

Nos autos, evidências fortes de busca ilegal e tortura. Além disso um terceiro assumia a propriedade da droga.

Haja vista o conjunto probatório, conversei com os acusados - um ex-presidiário e sua ex-sogra - e lhes disse que eles tinham boas chances de absolvição.

Diante das lágrimas nos olhos de ambos, passei a conversar com eles e a dar alguns conselhos. Com ar professoral, disse ao meu assistido que tentasse deixar o mundo das drogas, que buscasse um tratamento. Adverti que o destino da maioria dos usuários de drogas que passavam pelo Fórum Varella Barca era, infelizmente, o cemitério, seja por overdose, seja em confrontos com a Polícia, seja em cobranças de dívidas de drogas...

Olhei para meus assistidos, desejei sorte e me despedi. Sabia que, devido à força do vício, eu provavelmente não teria conseguido nada com minha "palestra", mas eu não imaginava que tão rapidamente a realidade de minhas palavras atingiria meu assistido de forma tão fulminante.

O site da Tribuna do Norte acabou de noticiar que ele foi morto com dois tiros na tarde de hoje. A suspeita é de dívida de drogas...

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