Todos
na sala ouviam atentamente o depoimento de uma das vítimas de um
assalto. Um rapaz, tranquilo e eloquente, contava detalhadamente o
ocorrido.
Vítima: Nós estávamos em uma festa e, de repente, senti alguém mexendo em meu bolso. Percebi que haviam levado minha carteira. O mesmo aconteceu com diversas pessoas. Uma das vítimas percebeu a ação e reagiu. Mas era um grupo grande e ele acabou sendo severamente espancado. Meu namorado luta artes marciais e ajudou o rapaz, evitando uma surra maior.
Ninguém na sala esboçou qualquer reação à revelação sobre a sexualidade do depoente.
Promotora de Justiça: E você sabe quem é Fulano de Tal?
V: É meu ex-namorado. Estava conosco e também teve bens subtraídos.
PJ: E Fulana de Tal?
V: Amiga nossa. Nós fomos à festa através dela e da namorada dela.
Com um sorriso constrangido, a vítima que até aqui falava com naturalidade acrescentou: era praticamente uma parada gay!!
Encerradas todas as perguntas, o depoente foi embora. Admito que fiquei impressionado com a segurança do depoente quanto à sua sexualidade e com a tranquilidade e naturalidade com que todos encararam o depoimento.
Lembrei de uma conversa que tinha tido pela manhã com outro juiz e outra promotora. Eu me queixava de nossa sociedade machista, homofóbica e racista. Eles retrucaram dizendo que não existia homofobia, que os gays estavam querendo passar leis para obter privilégios, que era praticamente uma ditadura gay, etc. Talvez, haja vista o ocorrido na audiência da tarde, eles tivessem razão?
A reflexão não durou 5 segundos após a saída do depoente da sala.
O Juiz disse: Isso não é natural!
Um Advogado falou: E vocês viram que ele fez questão de falar várias vezes no namorado? Ele queria chocar!
PJ: Isso não é de Deus! Deus fez Adão e Eva!
Visando evitar um constrangimento, resolvi alertar: Eu vou ficar calado, pois meu pensamento é diferente! Todos se entreolharam, mas não se intimidaram.
Uma Advogada falou: E eles agora querem até casar!
J: Do jeito que o Supremo está, vão acabar autorizando, embora a CF seja clara, fazendo questão de dizer "o casamento entre um homem e uma mulher".
Eu: Na verdade, o CNJ já determinou que todos os cartórios do Brasil realizem os casamentos homoafetivos. Até a minha conservadora PB já tinha decisões neste sentido!
J: Mas é um absurdo eles quererem obrigar agente a aceitar!
PJ: O mais absurdo que acho é eles quererem adotar! Imaginem só! Duas mulheres adotando um menino. Qual seria a figura masculina para ele?
Eu: Mas, doutora, e não existem mães solteiras? Qual a figura masculina aí?
PJ: Ah, mas aí tem um avô né?
Eu: E gay nasce de ovo? Não tem pai não?
Respirei fundo e levantei para ir embora, mas não resisti e acrescentei: Não vou dizer que já não pensei como vocês, pois fui criado na mesma sociedade racista, machista e homofóbica. Mas já faz um tempo que luto contra estes meus instintos sombrios. Ainda mais depois que me tornei Defensor Público. Não fica bem para alguém que tem entre suas atribuições a luta pela dignidade da pessoa humana ficar por aí destilando preconceitos.
Saí da sala e até imagino o rumo que a conversa tomou.
Vítima: Nós estávamos em uma festa e, de repente, senti alguém mexendo em meu bolso. Percebi que haviam levado minha carteira. O mesmo aconteceu com diversas pessoas. Uma das vítimas percebeu a ação e reagiu. Mas era um grupo grande e ele acabou sendo severamente espancado. Meu namorado luta artes marciais e ajudou o rapaz, evitando uma surra maior.
Ninguém na sala esboçou qualquer reação à revelação sobre a sexualidade do depoente.
Promotora de Justiça: E você sabe quem é Fulano de Tal?
V: É meu ex-namorado. Estava conosco e também teve bens subtraídos.
PJ: E Fulana de Tal?
V: Amiga nossa. Nós fomos à festa através dela e da namorada dela.
Com um sorriso constrangido, a vítima que até aqui falava com naturalidade acrescentou: era praticamente uma parada gay!!
Encerradas todas as perguntas, o depoente foi embora. Admito que fiquei impressionado com a segurança do depoente quanto à sua sexualidade e com a tranquilidade e naturalidade com que todos encararam o depoimento.
Lembrei de uma conversa que tinha tido pela manhã com outro juiz e outra promotora. Eu me queixava de nossa sociedade machista, homofóbica e racista. Eles retrucaram dizendo que não existia homofobia, que os gays estavam querendo passar leis para obter privilégios, que era praticamente uma ditadura gay, etc. Talvez, haja vista o ocorrido na audiência da tarde, eles tivessem razão?
A reflexão não durou 5 segundos após a saída do depoente da sala.
O Juiz disse: Isso não é natural!
Um Advogado falou: E vocês viram que ele fez questão de falar várias vezes no namorado? Ele queria chocar!
PJ: Isso não é de Deus! Deus fez Adão e Eva!
Visando evitar um constrangimento, resolvi alertar: Eu vou ficar calado, pois meu pensamento é diferente! Todos se entreolharam, mas não se intimidaram.
Uma Advogada falou: E eles agora querem até casar!
J: Do jeito que o Supremo está, vão acabar autorizando, embora a CF seja clara, fazendo questão de dizer "o casamento entre um homem e uma mulher".
Eu: Na verdade, o CNJ já determinou que todos os cartórios do Brasil realizem os casamentos homoafetivos. Até a minha conservadora PB já tinha decisões neste sentido!
J: Mas é um absurdo eles quererem obrigar agente a aceitar!
PJ: O mais absurdo que acho é eles quererem adotar! Imaginem só! Duas mulheres adotando um menino. Qual seria a figura masculina para ele?
Eu: Mas, doutora, e não existem mães solteiras? Qual a figura masculina aí?
PJ: Ah, mas aí tem um avô né?
Eu: E gay nasce de ovo? Não tem pai não?
Respirei fundo e levantei para ir embora, mas não resisti e acrescentei: Não vou dizer que já não pensei como vocês, pois fui criado na mesma sociedade racista, machista e homofóbica. Mas já faz um tempo que luto contra estes meus instintos sombrios. Ainda mais depois que me tornei Defensor Público. Não fica bem para alguém que tem entre suas atribuições a luta pela dignidade da pessoa humana ficar por aí destilando preconceitos.
Saí da sala e até imagino o rumo que a conversa tomou.
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