sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sobre a vingança privada.

Algumas conclusões sobre o fato que dominou as redes sociais nos últimos dias.

Nos últimos dias, temos visto nas redes sociais diversas manifestações contra e a favor da "opinião" da apresentadora do Jornal do SBT. Já compartilhei diversas análises sobre o que a musa dos reacionários falou. Nada a acrescentar.

O que queria comentar era sobre o fato que gerou o comentário. Vamos aos detalhes colhidos nas diversas matérias sobre o caso.

Um grupo de amigos virtuais marcaram pelo Facebook de se encontrar e, em suas motos, "patrulhar o Aterro do Flamengo em busca de potenciais assaltantes". O objetivo, claro, era castigar "meliantes". Um deles chegou supostamente dizer em uma entrevista que pretendiam mesmo era matar. Existem matérias que apontam que o grupo tinha entre 03 e 30 integrantes (?¹?).

Na rua, avistaram um adolescente de 15 anos, negro e pobre, estava na rua conversando com amigos também negros e pobres.

Não há nenhum relato de que o adolescente havia acabado de cometer um crime nem de que tenha sido reconhecido por alguma vítima naquele dia. Não existe relato de que o adolescente estivesse armado ou com o produto de algum crime.

Mas todas as matérias afirmaram que o adolescente já tinha pelo menos 03 passagens por assalto e furto. Por isso foi descrito como assaltante, bandido, meliante... Este detalhe merece mais algumas reflexões.

Se o menino tinha 15 anos e realmente cometeu atos infracionais, estes registros são (ou deveriam ser) sigilosos. Não é qualquer um que tem acesso à esses dados.

Por outro lado, como não existe a informação de que o menino havia cometido qualquer ato infracional naquele dia e como não é tão fácil assim "dar a sorte" de topar com um flagrante nas ruas, deduzo que os "justiceiros" buscavam encontrar alguém com passagem pela polícia para exercer sua vingança. E eles tinham os meios para reconhecer essas pessoas.

Isto tudo faz-me crer que entre o grupo de "justiceiros" havia pelo menos um com acesso a antecedentes criminais (inclusive sigilosos) e em uma linha de trabalho que o permita reconhecer pessoas com passagem.

Então vejam só. Estamos falado de um menino que foi espancado por um grupo de pessoas em número bem superior (covardemente), levou golpes na cabeça, foi humilhado, furtado (levaram suas roupas e documentos), amputado (parte de sua orelha) e deixado preso a um poste em exposição pública. Os bombeiros tiveram que usar um maçarico para soltá-lo!

O motivo da tortura? Ele ter passagem pela polícia.

Bater palmas pelas redes sociais vociferando o mantra da ignorância (bandido bom é bandido morto) é uma coisa (bem idiota, é verdade). Outra bem diferente é sair às ruas e torturar barbaramente um menino de 15 anos. Qualquer pessoa minimamente racional entende que apenas psicopatas são capazes de fazer este tipo de coisa.

É por isso que o fato de alguém vir em rede nacional apoiar este tipo de coisa é um absurdo. Falar em "legítima defesa coletiva" é ridículo. O que houve foi tortura covarde e vingativa de um adolescente de 15 anos. E se você não consegue ver isso, amigo, sinceramente, você precisa de tratamento. Urgente.

Nenhum comentário: