segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Rosivaldo Toscano Jr. em 22/01/2010: "O que faz um bom exemplo... (uma história real)"

José Cláudio Pontes e Manuel Sabino Pontes
Há uns trinta anos, da janela do quarto o menino via seu pai sair todas as manhãs para o trabalho. Como de costume, naquele dia se despediu de sua mãe com um beijo carinhoso na testa e, carregando uma maleta, entrou num fusquinha branco. Deu a partida quando ouviu um grito:

- Papai!

Era a criança que corria de pijamas em direção ao automóvel.

- Deixa eu ir com o senhor para o trabalho?

- Filhinho, meu trabalho não é lugar de criança. Lá só tem gente grande. Outro dia te levo lá, tá?

- Tá! O dia vai ser amanhã?! – perguntou o menino, com aquele sorriso que derrete o coração de qualquer pai. O homem parou um pouco e respondeu:

- Você promete se comportar direitinho?

- Prometo.

- Pois amanhã irá comigo. Passamos um tempinho e eu volto pra te deixar em casa, tá?

- Tá! Na manhã seguinte, lá estava o garoto arrumado e penteado, esperando seu pai ao pé da porta. Saíram.
 
O local era uma casa bem grande e cheia de pessoas na entrada. Havia umas placas, mas o garoto ainda não lia. Mal seu pai chegou e foi logo envolvido de gente. Perguntavam umas coisas esquisitas que o garoto não entendia nada. Ao chegar no interior do prédio, seu pai apontou para uma porta branca onde havia um fila de gente aguardando na frente:
 
- Meu filho, é naquela sala que seu pai trabalha. Vamos lá.
 
As pessoas da fila entravam e começavam a conversar com seu pai. Umas riam, outras choravam. Mas ninguém saía de lá sem um sorriso, um aperto de mão ou um abraço.
Ao se dirigirem de volta para casa, um homem da idade do seu avô saiu da fila, aproximou-se e abraçou seu pai:
 
- Doutor, estou aqui só pra agradecer pelo que o senhor fez comigo. Salvou a minha vida. Nunca esquecerei. Muito obrigado – e se foi sorrindo, mas com olhos de quem cortou cebola.
 
O menino olhou admirado. Do auto dos seus cinco anos de idade, percebeu naquele momento que seu grande herói tinha uma tarefa muito importante na vida das pessoas.
 
Voltou feliz e orgulhoso para casa. Sentiu uma sensação indescritível de paz e segurança. Do banco do carona seus olhinhos brilhavam de admiração enquanto olhavam para o seu ídolo.
Antes de chegarem, o menino perguntou:
 
- Papai, o senhor salva a vida das pessoas? O senhor é um super-herói como o super-homem?
Seu pai sorriu e com um olhar terno fitou o filhinho. E respondeu:
 
- Sou um Defensor Público, meu filho.
 
Foi dessa forma marcante que começou a história de Manuel Sabino Pontes. Um homem que descobriu bem cedo a grandeza dessa profissão. Sabe por que a beca da defesa nunca lhe pesou sobre os ombros? Porque a guardava, desde então, em seu coração. Por isso tanta realização, harmonia e naturalidade na carreira: foi apenas a doçura de um reencontro.
 
Cuida do mais simples dos acusados com a mesma consideração, atenção e respeito com que os grandes homens são costumeiramente tratados. E conduz a defesa com o cuidado de um ourives. Não por menos suas peças são verdadeiras jóias argumentativas.
 
Em todos esses anos de carreira já sentaram no banco dos defensores grandes homens. Defensores Públicos ou constituídos, eruditos e brilhantes, jovens ou vividos, sagazes e perspicazes. Íntegros. Mas nenhum com a estatura maior do que a de Manuel Sabino Pontes.






* Manuel Sabino é Defensor Público no Rio Grande do Norte. Há dois anos responde pelos processos de réus carentes (quer dizer, quase todos) na 2ª Vara Criminal, da qual sou Juiz Titular. Certo dia ele me contou, despretensiosamente, sua bela história de vida que eu, sem sequer avisá-lo, decidi transcrever nesse conto-homenagem, pois tanto ele quanto a sua bela história de vida o merecem. A foto acima foi exatamente no dia da sua posse. 


Fonte: Rosivaldo Toscano Jr.

Um comentário:

Rafson Ximenes disse...

Uma bonita história! O melhor é que nas próximas gerações, haverá mais chances de ter um pai Defensor, ou uma mãe Defensora.

Parabéns, Manuel. Força, na luta. Continue honrando seu pai.

abraços