sábado, 28 de maio de 2011

Avô: instituição divina

Na década de 80 eu perdi minha avó paterna. A lembrança mais viva que tenho da carinhosa Dona Diomar é de chegar na sua casinha e a encontrar no terraço sentada em uma cadeira me esperando. Vovó me ensinou sobre amor incondicional. Mostrou-me como cozinhar para alguém é uma forma de carinho. Como é bom sentar em uma mesa com os entes queridos e desfrutar daquilo que se passou um "tempão" preparando.

Na década de 90 perdi me avô materno. Como já era mais velho, lembro bem mais de Vovô Sabino. Lembro dele principalmente deitado em sua rede esticada por molas no terraço da granja. Mas lembro dos domingos na Escola Dominical, das inúmeras vezes em que esqueceu sua "capanga" (espécie de bolsa masculina) sobre o carro e saiu dirigindo pela cidade, de sua coleção de recortes, fotos e recordações as mais variadas dos "feitos" de seus queridos netinhos... Ele me ensinou lições de moral e ética, religiosidade, sobre a importância da família... Vovô Sabino me ensinou que devemos sempre fazer o bem, sem a necessidade de alardear o que fazemos e sem esperar sequer um obrigado. Ele também me deixou seu nome, Manuel Sabino, e a responsabilidade de honrar esta herança.

Na década passada foi a vez de minha avô materna. Dona Ceres era uma pessoa rígida e prática. Lembro muito dela cuidando da horta, molhando as plantas, alimentando os animais. Vovó deixou uma família muito unida e me ensinou a importância do trabalho e de guardar nos períodos de bonança.

Ontem o último dos pais de meu pais foi enterrado. Vovô Barroso começou a trabalhar muito cedo e parou de produzir muito tarde. Jornalista, advogado, escritor... Vovô sempre se manteve pensando. Talvez por isso tenha vivido 100 anos. Minha lembrança mais vívida de Vovô Barroso é de minhas visitas ao seu escritório na ASCB (Associação dos Servidores Civis do Brasil), sentado em uma enorme cadeira de couro, contando histórias do passado, dos percalços de sua vida, de suas glórias e arrependimentos. Vovô me ensinou a importância dos estudos, da atividade intelectual, o prazer da literatura...

Mas, mais importante que tudo, eles me deixaram meus queridos e amados pais. Não sei se digo o suficiente o quanto eu os amo e admiro. Meus pais me ergueram nas costas e me mostraram o mundo. O que há de bom e de ruim. Meus pais são meu porto seguro, são meus melhores amigos. Sofro muito pela distância de 180 km que nos separa. Gostaria de enfrentar a estrada para João Pessoa mais vezes, mas sei que eles compreendem as limitações de meu trabalho e sempre estão velando por mim. Sei também que posso sempre contar com eles.

Sei que meus pais estão tristes agora. A partida de Vovô Barroso certamente fez reviver as despedidas de Dona Diomar, Vovô Sabino e Dona Ceres. A saudade não vai passar, mas a alegria de ter conhecido e de ter sido influenciado por eles deve ser mais forte. E eu espero que eles saibam que estas quatro incríveis criaturas, na verdade, estão vivas neles.

Um comentário:

JLURM disse...

Linda homenagem, Manuel! Com certeza tem um pouco dos seus avós nos seus pais e em você também!